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    Quem são chefões do CV que compram armas de milícias do interior de SP

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    Parte do arsenal de guerra usado por facções criminosas para disputar territórios no Rio de Janeiro (RJ), principalmente para vender drogas, foi disponibilizado por uma milícia — composta por agentes públicos e empresários — cravada no interior paulista.

    Como revelado pelo Metrópoles, a prisão do policial militar (PM) José Casimiro de Lima Júnior, de 44 anos, na semana passada, em Limeira, no interior de São Paulo, reforça a suspeita, já em investigação pela Polícia Civil, sobre a existência da milícia formada por PMs e guardas municipais (GCMs), em parceria com o Comando Vermelho (CV).

    Lideranças da maior facção carioca, cujos tentáculos se expandem paulatinamente pelo interior do estado, coordenam a expansão da organização criminosa entocados em complexos de favelas, nos quais também abrigam parceiros paulistas e de outros estados, foragidos da Justiça.

    4 imagensRicardo de Lima Medeiros, o Dom Josias Bezerra MenezesFechar modal.1 de 4

    Luiz Carlos Bandeira Rodrigues

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    Ricardo de Lima Medeiros, o Dom

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    Josias Bezerra Menezes

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    “Da Roça” ou “Zeus Muzema”

    Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, no mundo do crime conhecido como Da Roça ou Zeus Muzema, é apontado pela Polícia Civil fluminense como uma das principais lideranças do CV.

    Natural de Rondônia, ele está foragido da Justiça, condição que não o impede de “incutir o temor” na zona oeste do Rio de Janeiro, onde, segundo investigação obtida pela reportagem, promove conflitos entre milicianos.

    “Baixinho Mato”

    Provavelmente escondido no complexo de favelas do Alemão, como mostra investigação policial, Jonathan Ricardo de Lima Medeiros, o Baixinho Mato ou Dom, é outra liderança do CV responsável pela comercialização de armas para traficantes no completo da Rocinha, onde são usadas de forma ostensiva.

    Também foragido da Justiça, o criminoso iniciou sua empreitada marginal na Paraíba, onde já teria ordenado a queima de um ônibus, resultando na morte do motorista.

    “Senhor das Armas”

    Conhecido como “Senhor das Armas” no mundo do crime, o ex-pastor Josias Bezerra Menezes, de 41 anos, é apontado pela Polícia Civil paulista como um importante elo entre o CV e o Bando do Magrelo — uma forte organização criminosa regional, nascida em Rio Claro, que disputa território com o Primeiro Comando da Capital (PCC) no interior de São Paulo.

    Atualmente, como consta em investigação da polícia fluminense, ele estaria escondido no complexo da Maré, sob a guarda do CV.

    O criminoso, integrante do Bando do Magrelo, é o responsável pela venda e envio de armamento pesado para a facção fluminense da qual é aliado, como mostra inquérito da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Limeira, obtido com exclusividade pela reportagem.

    Além disso, conforme trocas de mensagens interceptadas pela Polícia Civil, Pastor também determina quem deve morrer, indicando seus alvos para assassinos profissionais, entre eles o policial militar da ativa Carlos Alexandre dos Santos. O PM, como revelado pelo Metrópoles, é o líder de uma célula criminosa que presta serviços ao Bando do Magrelo e ao CV. Ele está preso desde 27 de fevereiro deste ano, ocasião na qual seu celular foi apreendido.

    Prestadores de serviço do CV

    Fontes que acompanham a expansão da organização criminosa carioca em São Paulo, assim como o surgimento de milícias compostas por policiais e guardas — ligados ao CV — confirmaram que o cabo José Casimiro agia em parceria com o também PM Carlos Alexandre dos Santos, o Bicho — preso desde fevereiro e apontado como o “principal executor e articulador” de uma milícia que presta serviços ao CV na região de Rio Claro.

    3 imagensCabo José Casimiro durante audiência de custódiaPM da ativa foi preso suspeito de envolvimento com o crime organizadoFechar modal.1 de 3

    Carlos Alexandre dos Santos, o Bicho (esq) e cabo José Casimiro (dir)

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    Cabo José Casimiro durante audiência de custódia

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    PM da ativa foi preso suspeito de envolvimento com o crime organizado

    Reprodução/Instagram

    O Metrópoles apurou que José Casimiro foi flagrado, durante a investigação, entrando com um carro clonado no condomínio onde Bicho tem um imóvel, após uma tentativa frustrada de assassinato. A ligação entre ele e o chefe da milícia, ligada ao CV, confirma-se em uma foto, compartilhada em uma rede social do PM, preso na semana passada (veja galeria acima).

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    Crimes violentos

    Por volta das 7h10, do último dia 27, policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), juntamente com membros da Corregedoria da PM, prenderam o cabo José Casemiro no momento em que ele chegava para trabalhar na 5ª Cia. do 36º Batalhão do Interior.

    A casa do PM também foi alvo de buscas, feitas mediante mandado judicial, quando foram apreendidos celulares, cartões bancários e munições. Os itens serão submetidos a perícia.

    A investigação da Polícia Civil do interior mostra que o cabo José Casimiro estaria envolvido na prática de crimes violentos, “especialmente homicídios”, para os quais a milícia composta por agentes públicos usaria veículos clonados, ou dublês.

    Os carros, após os crimes, são abandonados em locais previamente definidos, ou incendiados, com o intuito de eliminar vestígios e dificultar a identificação dos criminosos, destaca ainda a investigação.

    José Casimiro foi indiciado por tentativa de homicídio, falsificação de sinal identificador de veículo, prevaricação, tráfico e associação ao tráfico de drogas. Ele foi encaminhado para o Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte da capital paulista, onde permanecerá durante sua prisão temporária.

    Prisão mantida

    Durante audiência de custódia, às 12h30 do último dia 28, a defesa do cabo José Casimiro afirmou considerar a prisão dele “ilegal”. O advogado Lucas Alvarenga alegou na ocasião que o PM é réu primário, conta com residência fixa, além de ser servidor público.

    “A prisão dele baseia-se somente na menção de um vulgo, que aparece duas vezes no decorrer de toda investigação, que é ‘Bigode’ ou ‘Bigodeira’”.

    Ele disse ainda não existir provas da suposta relação do cliente com o crime organizado. Os argumentos, porém, não surtiram efeito e o PM segue atrás das grades.