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    Piloto e do agro: quem é o empresário suspeito de comprar sentenças

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    Suspeito de pagar R$ 26 milhões para comprar decisões judiciais, o empresário do agronegócio João Antônio Franciosi é também piloto de esporte radical, financiador de partidos de direita e mantém um histórico de desmatamento ilegal, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

    Dono do grupo Franciosi, que já foi considerado uma das 100 maiores empresas do agro no país, João Franciosi foi alvo de mandado de busca e apreensão da Polícia Federal no início deste mês. Ele é acusado de integrar núcleo de organização criminosa suspeita de grilagem de terras no Piauí a partir de sentenças manipuladas. Conforme revelou a coluna nessa segunda-feira (27/10), relatório da PF aponta que o empresário do agro pagou R$ 26 milhões para comprar decisões do desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí (TJPI) José James.

    7 imagensJoão Antonio Franciosi, dono do grupo Franciosi e suspeito de pagar R$ 26 milhões para comprar sentença no TJPIJoão Antonio Franciosi, dono do grupo Franciosi e suspeito de pagar R$ 26 milhões para comprar sentença no TJPIQuem é quem no esquema de venda de sentenças do TJPIQuem é quem no esquema de venda de sentenças do TJPIQuem é quem no esquema de venda de sentenças do TJPIFechar modal.1 de 7

    João Antonio Franciosi, empresário dono do grupo Franciosi e suspeito de pagar R$ 26 milhões para comprar sentença no TJPI

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    João Antonio Franciosi, dono do grupo Franciosi e suspeito de pagar R$ 26 milhões para comprar sentença no TJPI

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    João Antonio Franciosi, dono do grupo Franciosi e suspeito de pagar R$ 26 milhões para comprar sentença no TJPI

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    Quem é quem no esquema de venda de sentenças do TJPI

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    Quem é quem no esquema de venda de sentenças do TJPI

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    Quem é quem no esquema de venda de sentenças do TJPI

    Arte/ Metrópoles

    O grupo Franciosi atua principalmente com soja e algodão, com plantações na região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). A companhia detém uma área produtiva de 82 mil hectares, o equivalente à metade da cidade de São Paulo. O grupo já foi considerado pela Forbes, em 2019, uma das 100 maiores empresas do agronegócio no Brasil.

    O empresário João Franciosi teve recentemente 1,5 mil hectares de suas propriedades embargadas pelo Ibama por desmatamento ilegal. A área corresponde a 1,5 mil campos de futebol. Ao todo, foram oito embargos neste ano, em uma operação do órgão ambiental que se estendeu entre os dias 22 de agosto e 3 de setembro. As áreas embargadas de Franciosi estão localizadas nas cidades baianas de Luiz Eduardo Magalhães e Barreiras.

    5 imagensPlantação de soja do grupo Franciosi na cidade de Luís Eduardo MagalhãesUma das oito áreas embargadas pelo Ibama de fazendas de João Franciosi em Luís Eduardo MagalhãesAreas embargadas pelo Ibama de propriedades de João Franciosi equivalem a 1,5 mil campos de futebolJoão Franciosi ganhou o rali dos Sertões em 2018Fechar modal.1 de 5

    Doação de campanha de João Franciosi nas eleições de 2024

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    Plantação de soja do grupo Franciosi na cidade de Luís Eduardo Magalhães

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    Uma das oito áreas embargadas pelo Ibama de fazendas de João Franciosi em Luís Eduardo Magalhães

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    Areas embargadas pelo Ibama de propriedades de João Franciosi equivalem a 1,5 mil campos de futebol

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    João Franciosi ganhou o rali dos Sertões em 2018

    YouTube/Reprodução

     

    Antes de figurar as páginas policiais, João Franciosi já era famoso no setor agrícola e na mídia especializada. O cotonicultor, inclusive, era figurinha carimbada em competições de rali pelo Brasil, tendo sido campeão do torneio Rali dos Sertões em 2013.

    Em uma entrevista para um canal no Youtube sobre a história “de garra” da família dele, o cotonicultor fala que é natural do Rio Grande do Sul, e que se mudou para Luis Eduardo Magalhães em 1987. Influente na cidade, nas últimas eleições João Franciosi doou R$ 50 mil, respectivamente, para o Diretório Municipal do União Brasil e do Partido Progressistas (PP) da cidade de Luis Eduardo Magalhães. Os dois depósitos foram feitos por PIX, segundo dados da Justiça Eleitoral.

    Um vídeo institucional da Franciosi Agro, a companhia mostra o empresário em plantações de algodão e destaca, na legenda, que “desenvolvimento é sobre esforço”.

    Entenda esquema de compra e venda de sentenças envolvendo empresário do agro

    Segundo investigação da Polícia Federal, o empresário do agro João Franciosi é acusado de integrar um esquema de compra de decisões judiciais no Tribunal de Justiça do Piauí (TJPI). Procurado, o empresário não quis se manifestar. O relatório aponta que ele teria pago R$ 26 milhões para garantir uma sentença favorável em processo de disputa por terra — parte de um montante maior que totalizava mais de R$ 100 milhões movimentados via empresa de fachada.

    A investigação da PF aponta que, entre setembro de 2023 e agosto de 2024, Franciosi transferiu valores da ordem de R$ 16,98 milhões e R$ 9,22 milhões, em diversos PIX, a dois advogados que teriam intermediado a compra da sentença junto ao desembargador do TJPI José James Gomes Pereira.

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    O objetivo do pagamento era favorecer a empresa Sundeck Holding Ltda na decisão do agravo de instrumento nº 0750602-73.2023.8.18.0000, que tratava de direitos sobre uma fazenda de 22,5 mil hectares no Piauí.

    Franciosi foi alvo de mandado de busca e apreensão pela PF no início de outubro de 2025, dentro da investigação que resultou no afastamento do desembargador José James do TJPI. Ele também responde como réu em outro processo, a operação “Faroeste”, que investiga venda de sentenças e grilagens de terra na Bahia.

    O que dizem os investigados

    A coluna tentou contato com as defesas de João Franciosi, do desembargador José James e da filha dele, Lia Rachel, e dos outros investigados.

    Em nota, a defesa de José James informou que o magistrado nunca solicitou, autorizou ou compactuou com qualquer prática que violasse os princípios da legalidade, moralidade e ética que sempre nortearam sua trajetória na magistratura. “A defesa técnica do desembargador e de sua filha, a advogada Lia Raquel, refuta qualquer juízo precipitado sobre os fatos. Como o processo está em segredo de justiça, neste momento, a defesa não poderá aprofundar qualquer análise técnica”, esclareceu a defesa, assinada pelo escritório Almeida Castro, Castro e Turbay Advogados. O empresário João Franciosi preferiu não se manifestar.

    Por sua vez, Paulo Ramos afirmou que atuou dentro da legalidade e que a movimentação financeira da empresa é lícita:

    “O advogado e empresário Paulo Ramos reafirma que sempre atuou de forma transparente e dentro da legalidade, contratando parceiros em todo o Brasil com serviços formalizados e pagamentos devidamente declarados. Ele destaca que jamais participou ou compactuou com qualquer conduta ilícita. A movimentação financeira de sua empresa é lícita e integralmente declarada ao fisco. As transferências feitas a advogados investigados ocorreram após os fatos sob apuração e se referem a outros serviços sem relação com a investigação. Paulo Ramos reforça sua confiança nas instituições e está à disposição das autoridades para que a verdade prevaleça”.