Este sábado (15/11) era para ser um dia sem compromissos oficiais na Conferência do Clima de Belém, a COP30. Mas impasses importantes persistem nas negociações, e os diplomatas de 194 países participantes continuarão em reuniões até pelo menos a tarde de hoje.
O objetivo é chegar a um texto definitivo para as negociações antes da chegada dos ministros de Estado, a partir de segunda-feira (17).
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No chamado segmento de alto nível da conferência, cerca de 160 ministros são esperados para assumir a chefia das delegações em Belém – será a hora de tomar as decisões políticas do evento, até a próxima sexta. O trabalho diplomático desta primeira semana é tão intenso para aparar o maior número de arestas possível e aumentar as chances de um acordo no final.
Os bloqueios não chegam a ser exatamente uma surpresa: este é o momento de cada país ser vocal nas reivindicações e esconder suas cartas para a reta final das negociação do acordo.
Em um balanço na noite desta sexta-feira (14), a negociadora-chefe da delegação brasileira, Liliam Chagas, disse que os diálogos têm sido “nervosos” e parecem uma “montanha-russa”, mas salientou avanços em diversos assuntos, inclusive em temas-chave como a transição justa – ou seja, que os países menos desenvolvidos tenham condições especiais para reduzirem as suas emissões – e a adoção de parâmetros de adaptação dos países às mudanças climáticas, dois temas prioritários para a presidência brasileira do evento.
Neste tópico, a resistência vem dos países africanos, que preferiam prolongar as discussões sobre estas métricas ao longo dos próximos dois anos, para uma decisão na COP32, na Etiópia. Eles querem ter garantias de que esses indicadores serão factíveis para os países mais pobres e que terão financiamento para cumpri-los.
“O ótimo é inimigo do bom. Para eles, o ótimo seria fechar daqui a dois anos, mas o risco é de não fechar e começar a virar uma bola de neve que não acaba nunca”, analisa Alexandre Prado, especialista em mudanças climáticas da organização WWF Brasil e observador do processo. “O meu ponto de vista é a gente chegar a um acordo no que está bom, afinal os indicadores colocados não estão ruins. Se for o caso, poderemos melhorar alguns itens específicos, mas pelo menos poderemos já começar a trabalhar”, defende.
Foco na natureza e nas pessoas que dela dependem
Ao fim da primeira semana de negociações, a implementação das promessas climáticas feitas pelos países foi um tema central, celebra outra observadora, Florence Laloë, diretora global de Política Climática da Conservation International.
“Quando os países adotam compromissos internacionais, eles precisam implementar. Tornar isso mais visível nesta COP é fundamental, porque a gente está em um momento das negociações do clima que está se reduzindo o que falta negociar”, indica. “Agora, é acelerar as soluções que funcionaram.”
Ao impulsionar essa agenda, a COP30 aproxima as negociações complexas da conferência da vida real das pessoas e do meio ambiente, incluindo a maior sinergia entre clima e biodiversidade, dois assuntos tratados separadamente na esfera diplomática.
“Essa é uma COP totalmente focada na natureza e vejo as discussões avançarem. Isso já é de fato muito importante, porque está colocando a atenção do mundo não só na natureza, como nos povos indígenas, comunidades locais e a população que depende desse ecossistema para sobreviver”, salienta Florence Laloë.
Financiamento
As duas pautas, entretanto, vão depender do desbloqueio do financiamento climático dos países desenvolvidos para as nações em desenvolvimento – o assunto espinhoso que provocou acaloradas discussões nas salas da COP, ao longo dos últimos cinco dias. Outra questão delicada, que corre em paralelo, é a redução da dependência dos combustíveis fósseis, levantada pelo Brasil. Os grandes produtores de petróleo, liderados pela Arábia Saudita, sequer aceitam que este assunto seja tratado na plenária da COP30.
“Eu saio esperançoso, na comparação com 10 dias atrás, antes de começar. Pontos que são muito importantes, como a discussão de afastamento dos combustíveis fósseis, como ter um mapa do caminho para a eliminação do desmatamento são considerações que a gente não estava vendo onde isso iria acontecer”, comenta Prado.
A agenda oficial da negociação é mais um ponto de fricções. No primeiro dia, os participantes concordaram sobre as linhas gerais do que seria discutido, mas ainda não se tem uma resposta sobre a inclusão de quatro subtemas. Eles se referem ao que fazer com os compromissos climáticos dos países, que estão sendo atualizados este ano, o financiamento o aumento da transparência e medidas unilaterais de comércio baseadas em critérios ambientais, como emissões e desmatamento.
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