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    CPI para investigar prefeito tiktoker une PL a PT e PSOL

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    Vereadores dos antagônicos PL, PT e PSOL foram os únicos a assinar requerimentos pedindo a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal de Sorocaba para investigar as denúncias de corrupção que levaram ao afastamento do prefeito “tiktoker” Rodrigo Manga (Republicanos) por decisão judicial na quinta-feira (6).

    São necessárias nove assinaturas, entre 25 vereadores, para uma CPI ser instaurada na Câmara de Sorocaba. Mas o máximo que as oposições a Manga, o prefeito tiktoker, conseguiram até aqui foram sete endossos: três do PL, de direita, quatro de PT e PSOL, da esquerda. Os partidos que nacionalmente compõem o Centrão, e que em Sorocaba formam a base governista, têm protegido o prefeito.

    “Ele (Manga) criou 80 cargos na prefeitura para que a CPI não fosse aberta. Por isso cheguei a pedir o afastamento dele, porque ele controlava quem poderia investigá-lo. Mas agora acabou o governo, a chance de voltar é bem remota, todo mundo sabe disso. A preocupação do Manga hoje é qual presídio ele vai”, diz o vereador Raul Marcelo (PSOL), que já foi deputado estadual por três mandatos e apresentou a denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) que acabou desencadeando a Operação Copia e Cola.

    Em abril, após a primeira fase da operação que investiga repasses na área da saúde, apenas vereadores de esquerda –  Iara Bernardi (PT), Izídio de Brito (PT), Fernanda Garcia (PSOL) e Raul Marcelo (PSOL) – apoiaram uma primeira tentativa de criação de uma CPI.

    Dias depois, a bancada do PL, composta pelos vereadores Dylan Dantas, Roberto Freitas e Tatiane Costa, protocolou novo pedido, com incomum apoio dos colegas de esquerda, a quem costumam atacar nas sessões e nas redes sociais. Um vereador do MDB, Henri Arida, posteriormente também assinou – segundo ele, por engano.

    “Sempre defendi uma investigação responsável na Saúde, por isso protocolei o pedido de CPI com a bancada do PL. Sou um vereador de direita conservadora e não fecho os olhos para o que ocorre em nossa cidade. Espero que a Justiça faça um trabalho sério, garantindo ao prefeito o amplo direito de defesa”, diz o vereador Dylan Dantas, do PL.

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    Ontem (6), a decisão da Justiça Federal de afastar Manga por 180 dias do cargo chegou à Câmara Municipal durante sessão ordinária. O presidente do Legislativo, pastor Luis Santos, também do Republicanos, saiu do plenário e voltou com um papel. Antes do anúncio que atingia o prefeito tiktoker, avisou que o assunto não poderia ser discutido.

    “Tem um comunicado que preciso fazer para esta casa, avisando que não teremos espaço para discussão desse comunicado depois”, disse o vereador do partido do prefeito. “Eu acabei de receber uma cautelar criminal, assinei o recebimento, o doutor Fernando já foi informado que vai precisar assumir a prefeitura e o Rodrigo Manga está impedido de suas funções por 180 dias.”

    O afastamento foi autorizado pelo desembargador federal José Lunardelli, que acatou integralmente a representação do Ministério Público Federal (MPF). O processo é relatado pelo desembargador André Nekatschalow, que está de férias.

    Além de ter que deixar o cargo de forma provisória, Manga também está proibido de acessar a sede da prefeitura de Sorocaba e de manter contato diretamente ou por intermédio de terceiros com determinados servidores públicos. A lista de pessoas afetadas não foi divulgada pela Câmara de Sorocaba e o processo corre em segredo de Justiça.

    PT x PL x Republicanos

    A oposição do partido de Jair Bolsonaro à gestão de Manga, um apoiador do ex-presidente, vem desde as eleições do ano passado, quando o PL lançou o deputado estadual Danilo Balas para concorrer contra Manga, que buscava a reeleição com apoio do governador Tarcísio de Freitas, seu correligionário no Republicanos.

    Balas, que é policial federal de carreira, passou a campanha utilizando um colete a prova de balas afirmando que precisava se proteger da organização criminosa que havia aparelhado a prefeitura. Manga venceu no primeiro turno, com 73,7% dos votos válidos, contra 13,58% de Bala e 12,46% de Paulinho do Transporte (PT), candidato da esquerda.

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    Mais do que uma vitória avassaladora no Executivo, Manga conseguiu ampliar sua influência sobre a Câmara Municipal, com a eleição de 14 vereadores de sua coligação e outros três, do Agir, que fizeram campanha por ele e hoje fazem parte da base, com direito a cargos no secretariado.

    Em 2017, Manga era presidente da Câmara e único vereador do partido do então prefeito José Crespo, o Democratas, mas pulou do barco já no primeiro semestre de governo, ajudando a instaurar uma CPI para investigar a nomeação de uma assessora do prefeito que não tinha formação superior e apresentou um diploma falso. A investigação causou a cassação do mandato de Crespo.

    Crespo retornou ao cargo e foi cassado de novo, em 2019, desta vez de forma definitiva, após nova CPI, desta vez para investigar a manutenção da assessora em seu gabinete como “voluntária”, enquanto era supostamente remunerada por uma empresa terceirizada. Crespo recentemente foi absolvido pela Justiça em ação civil de improbidade administrativa relacionada ao caso.

    Inicialmente aliado de Jaqueline Coutinho (PSL), quando a vice assumiu a prefeitura, Manga rompeu com ela em 2020 e se lançou candidato de oposição. Os dois chegaram ao segundo turno da eleição municipal daquele ano, com vitória apertada de Manga, com 52% dos votos válidos.

    A administração Manga chegou a ser alvo de CPI no ano passado, a respeito de contratos envolvendo a família do ex-diretor da Urbes – Trânsito e Transporte, Jorge Domingos Hial, e a Prefeitura de Sorocaba. Composta quase integralmente por vereadores da base do prefeito, a CPI só realizou duas reuniões e terminou sem qualquer apuração.