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    Haddad defende corte da Selic: “Ninguém deve se afligir com o debate”

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    O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), voltou a defender o corte da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, atualmente em 15% ao ano. Nesta segunda-feira (10/11), em entrevista em São Paulo, o chefe da equipe econômica reiterou que, em sua opinião, já há condições para que a Selic seja reduzida pelo Banco Central (BC).

    Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, na semana passada, a autoridade monetária manteve os juros inalterados, em 15% ao ano. O Brasil tem a quarta maior taxa nominal de juros do mundo e é o vice-líder no ranking global dos juros reais (a taxa nominal descontada a inflação).

    Em entrevista à CNN Brasil, Haddad foi questionado se estaria “decepcionado” com o trabalho do presidente do BC, Gabriel Galípolo, à frente da autarquia. O chefe da equipe econômica elogiou Galípolo – que foi seu secretário-executivo na Fazenda antes de ser indicado ao BC.

    “Não vou usar esse termo, até porque eu tenho uma proximidade muito grande com o Gabriel, que foi meu secretário-executivo e indicado por mim ao BC. Acredito que ele está fazendo um bom trabalho à frente do BC. Ele herdou uma série de problemas no mercado financeiro”, observou Haddad.

    “O BC é mais do que a Selic, envolve muitas outras coisas. O que eu posso dizer é que eu acho que a taxa de juros, e todo mundo sabe qual é a minha opinião, tem espaço para corte. E isso não é uma questão pessoal. É uma questão institucional”, prosseguiu o ministro, defendendo mais uma vez o corte de juros.

    “As pessoas manifestam suas opiniões, o mercado financeiro manifesta suas opiniões, o setor produtivo, a classe política, os analistas também… mas quem decide é o BC.”

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    Segundo Haddad, “uma parte desses players concorda de que talvez já tenha chegado a hora de começar o ciclo de corte” da Selic. “Quando e como começa, isso é uma discussão. Mas ninguém deveria se afligir com o debate honesto sobre essas questões. Ninguém está querendo nada que não seja o bem do país”, afirmou o ministro da Fazenda.

    Haddad voltou a elencar algumas conquistas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na área econômica.

    “Estamos celebrando uma série de indicadores econômicos do país. Vai ser o maior crescimento médio da economia desde 2010, a menor taxa de inflação acumulada em quatro anos da história do Brasil. Vai ser o menor índice de desigualdade da nossa história. A menor taxa de desemprego da série histórica do IBGE. E o melhor resultado primário acumulado desde 2015”, disse o ministro.

    “O mundo não está em uma situação simples. Você vê os nossos vizinhos aqui, Argentina, Venezuela. Pega a Europa, desacelerando fortemente. O tarifaço nos Estados Unidos e as dificuldades do governo [de Donald] Trump. Mas nós temos um contexto em que o Brasil pode, efetivamente, a continuar fazendo o que tem de ser feito, criar um ambiente econômico muito favorável ao investimento”, completou.

    Questão fiscal

    Além da taxa de juros, Fernando Haddad foi indagado sobre a questão fiscal no país e afirmou que o governo brasileiro vem cumprindo as metas e sendo fiscalmente responsável.

    “A situação fiscal do país já esteve muito pior em um período recente, no governo Temer, no governo Bolsonaro. É só pegar os dados fiscais do país. Você tinha um déficit primário na casa de 2% do PIB. Hoje estamos falando em equilíbrio das contas públicas e um pequeno superávit no ano que vem. Mudou para melhor a situação fiscal do país”, disse Haddad.

    “Nós vamos praticamente liquidar o fundo de compensação salarial. Vamos integralizar 100% do Fundeb, que é uma despesa contratada no governo anterior sem fonte de financiamento. Estamos normalizando a curva do BPC [Benefício de Prestação Continuada], que também foi uma mudança na legislação, em 2021, que flexibilizou os critérios de elegibilidade”, prosseguiu o ministro.

    Segundo Haddad, o governo Lula enfrentou “alguns problemas gravíssimos herdados dos governos anteriores e que nós estamos conseguindo equacionar de maneira consistente”. “Nós demos conta de uma herança muito complexa de administrar”, concluiu.