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    Procurada pela Interpol por fraude é presa em SP e solta horas depois

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    Poucas horas após ser abordada e presa por policiais militares, por volta das 15h dessa segunda-feira (17/11) na região metropolitana de São Paulo, Thaynara Caroline Santos Pereira, de 29 anos, foi liberada pela Polícia Federal (PF). Ela é uma das seis brasileiras cujos nomes constam na difusão vermelha da Polícia Internacional (Interpol).

    Como mostrado pelo Metrópoles, Thaynara foi abordada por PMs rodoviários durante uma operação de combate ao crime na Rodovia Anchieta, na região de Santo André. Ao checarem os antecedentes criminais da mulher, constataram que um mandado de prisão, expedido pela Interpol, está em vigor contra ela.

    Thaynara cometeu crimes de associação criminosa e fraude na Argentina, como consta em documentos judiciais daquela país, obtidos pela reportagem (leia mais abaixo).

    5 imagensBrasileira teria composto quadrilha de fraudadores na ArgentinaThaynara foi abordada por PMs no ABC e levada para delegacia da PF na capital paulistaFechar modal.1 de 5

    Dados de brasileira constam em site da Interpol

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    Brasileira teria composto quadrilha de fraudadores na Argentina

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    Thaynara foi abordada por PMs no ABC e levada para delegacia da PF na capital paulista

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    Soltura

    Ela foi então encaminhada a Superintendência da Polícia Federal (PF) na Lapa, zona oeste paulistana, onde o delegado Cássio Câmara Albuquerque registrou a ocorrência, que seria encaminhada à Interpol, juntamente ao boletim de ocorrência da PM para “subsidiar a Polícia Internacional”, de acordo com relatório da PM.

    Para que ela fosse presa em flagrante, porém, seria necessária uma homologação do mandado pelo Superior Tribunal Federal (STF), o que não foi feito. Thaynara então foi solta, pelo fato de o mandado não poder ser cumprido naquele momento.

    Um policial federal explicou à reportagem, em condição de sigilo, que o Brasil não extradita cidadãos para outros países, mesmo com um mandado internacional em vigor.

    “Ela estar na difusão vermelha não quer dizer que ela possa ser presa no Brasil. Significa que tem outro país procurando, que tem um mandado [de prisão] em outro pais. Quando a pessoa é localizada, o procedimento é comunicar o país de interesse da difusão da localização, para ver se ele tem interesse em pedir a prisão no Brasil. Aí prende para extradição”.

    O agente federal destacou que mesmo ocorrências nas quais o foragido é estrangeiro, podendo ser extraditado, podem ser dificultados.

    “O problema é que para alinhar ao mesmo tempo [as Justiças de dois países], dependendo da situação, é realmente complicado, não é um alinhamento muito fácil de fazer”.

    No caso de Thaynara, acrescentou o policial, o que pode ser feito é a Justiça argentina tentar transferir o processo dela para o Brasil.

    Organização criminosa

    O Poder Judicial de la Nación decretou a prisão e pediu a extradição de Thaynara sob a acusação de participação de uma organização criminosa especializada em copiar dados de cartões de débito e crédito de terceiros. O bando teria atuado em Buenos Aires, capital da Argentina, entre setembro de 2018 e junho de 2019.

    Mais de dois anos depois, veio a ordem, assinada pelo Juzgado Nacional en lo Criminal y Correccional, de 2 de setembro de 2021, para inclusão do nome da brasileira na difusão vermelha da Interpol e a publicação de seu registro na seção internacional de pessoas procuradas. Segundo o tribunal, Thaynara não estaria mais na Argentina desde janeiro de 2019, e seu perfil informado pelo Facebook indicaria residência no Brasil.

    De acordo com a decisão argentina, ela é investigada pelos crimes de associação criminosa e de fraude pelo uso indevido de cartões alheios. As penas combinadas variam de 3 a 16 anos de prisão, com prescrição prevista para 7 de janeiro de 2031.

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    Chupa-cabras na Argentina

    O grupo do qual Thaynara faria parte — composto por ao menos 16 pessoas — instalava dispositivos clandestinos em caixas eletrônicos para copiar dados de usuários, conhecidos como chupa-cabras, clonava cartões e realizava operações bancárias com valores transferidos para contas da própria associação.

    Segundo a investigação, Thaynara seria uma das responsáveis por receber em sua conta bancária valores oriundos das transferências realizadas pelos operadores que utilizavam os cartões clonados em Buenos Aires, Vicente López e San Isidro.

    Em 2023, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou que a Justiça Federal em São Paulo concedesse um salvo-conduto a Thaynara, impedindo que ela fosse presa unicamente com base na difusão vermelha da Interpol.

    O parecer foi apresentado no âmbito de um habeas corpus preventivo apresentado pela defesa, após relatos de que policiais federais teriam ido ao endereço da mãe de Thaynara, em Santo André, para cumprir uma ordem internacional de captura. Este processo foi arquivado em dezembro de 2023.

    Apesar da decisão da Justiça brasileira, o nome dela seguia na difusão vermelha da Interpol até a publicação desta reportagem. A defesa de Thaynara não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.