Uma casa de leilões na Alemanha cancelou neste domingo (16/11) um leilão de itens pertencentes a vítimas do Holocausto que estava marcado para ocorrer nesta segunda-feira (17) em Neuss, perto de Düsseldorf, no oeste do país. A suspensão ocorreu após críticas de uma entidade de representação das vítimas do Holocausto e de autoridades alemãs e polonesas.
O vice-presidente executivo do Comitê Internacional de Auschwitz (IAK, na sigla em alemão), Christoph Heubner, classificou o leilão como “cínico e vergonhoso”. Heubner afirmou em um comunicado que a história dos sobreviventes do Holocausto está sendo “explorada para fins comerciais”.
Crítica do governo polonês
“Documentos relacionados à perseguição e ao Holocausto pertencem às famílias daqueles que foram perseguidos”, disse ele. “Eles deveriam ser exibidos em museus ou em exposições em memoriais e não serem degradados a objetos de comércio.”
O ministro das Relações Exteriores da Polônia , Radoslaw Sikorski, anunciou neste domingo que discutiu o assunto com seu homólogo alemão, Johann Wadephul. E que ambos concordam “que tal ultraje deve ser evitado”, escreveu ele na plataforma X .
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Objetos pertencentes a vítimas do Holocausto não devem entrar no “mercado comercial”, prosseguiu Sikorski, afirmando que Polônia exige que os documentos sejam entregues ao Memorial de Auschwitz.
Autoridades festejaram cancelamento
A casa de leilões Felzmann, então, cancelou o evento.
O embaixador alemão na Polônia, Miguel Berger, comemorou o cancelamento do leilão pelas redes sociais. “Isso jamais deveria ter acontecido. É inaceitável negociar documentos e pertences pessoais de vítimas do nazismo.”
A embaixada polonesa na Alemanha agradeceu a todos cuja intervenção levou ao cancelamento. O embaixador polonês na Alemanha, Jan Tombinski, também havia entrado em contato com as autoridades do estado no qual o leilão ocorreria, a Renânia do Norte-Vestfália, para discutir o caso.
Documentos e objetos
A Felzmann havia listado um catálogo de documentos programados para ir à venda no leilão intitulado “Sistema de Terror Vol. 2”, com itens que datam de 1933 a 1945. Entre eles, estavam documentos nazistas sobre esterilização forçada realizada no campo de concentração de Dachau.
O leilão incluía registros de empresas vendidas à força aos nazistas, assim como documentos de identificação e passaportes de judeus que conseguiram fugir da perseguição para o Chile e a Argentina.
Apresentava também “documentos que salvaram vidas”, como um formulário de liberação para um prisioneiro que conseguiu deixar o campo de concentração de Mauthausen.
Em um dos itens mais pessoais, o catálogo do leilão citava três cadernos de anotações de um judeu polonês anônimo que sobreviveu à guerra na Polônia.
De forma controversa, o leilão também incluiu para venda Estrelas de Davi usadas no campo de concentração de Buchenwald e uma braçadeira com a Estrela de Davi.
Itens de propaganda nazista, incluindo um livreto e um pôster de um programa nazista, também eram previstos para serem leiloados.
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