Silenciosamente, atletas vivem um retrato de desequilíbrio das emoções (JOÃO RICARDO COZAC, PSICÓLOGO DO ESPORTE)
Ele explica que, se não acompanhados desde o início da carreira, os atletas são duramente impactados pelo mundo que compõe o espetáculo esportivo e, dentro deste contexto, atletas que poderiam triunfar acabam tendo o desempenho reduzido e o sofrimento aumentado.
“Os atletas de alto rendimento trazem em si exigências que não são simples, que mexem com autoimagem, identidade e autoestima. O importante da Simone Biles revelar seu estado interno é um fortalecimento para que os demais atletas também possam reivindicar uma qualidade melhor desse perfil psicológico e emocional desde o início das suas carreiras”, afirma.
Ele destaca que o suporte psicológico é necessário não apenas nos momentos de pressão ou derrota. “O treinamento psicológico é a base da pirâmide do treinamento esportivo. Em um lado desse triângulo está a preparação física, do outro a preparação tática e técnica e, na base, a preparação psicológica”, explica.
“Você não pode criar atletas com corpos de aço, técnicas de aço e a base de barro. No momento em que tudo desaba, não adianta ter talento e medalhas, o que importa é o suporte emocional”, afirma o especialista.
No caso de atletas que iniciam a carreira ainda na infância, como na ginástica, por exemplo, Cozac explica que o impacto da pressão pode ser ainda maior se não houver um acompanhamento especializado.
“Quando a Simone Biles fala sobre a vida para além da ginástica, o que ela quer dizer é que há um ser humano que abdicou de uma infância, da adolescência e início da fase adulta em nome do esporte e em alguns momentos essas vivências fazem falta para que o desenvolvimento emocional possa ocorrer de uma forma natural e saudável”, ressalta o psicólogo.
Para ele, o caso da norte-americana é um grande sinal de alerta para que a comunidade esportiva pense na saúde mental dos atletas com mais seriedade e que este treinamento psicológico seja prioridade durante todo o percurso da carreira.
“O peso da fama e das expectativas é quase insuportável para alguns atletas, dependendo do perfil de personalidade e das vivências anteriores no período de desenvolvimento da infância. Atletas silenciosamente vivem um retrato de desequilíbrio das emoções e uma tentativa de adaptação às exigências. Não raro, o final dessa equação são as síndromes e a desistência precoce da prática esportiva, quadros agudos de depressão e crises de ansiedade”, diz Cozac.
Por R7