MAIS

    ‘Fadinha do skate’, Rayssa Leal faz aumentar procura por esporte no Rio

    Por

    As manobras do pequeno Nicolas, de 8 anos, chamavam atenção de quem passava na pista de skate do Aterro do Flamengo, na manhã desta segunda-feira. Apesar da pouca idade, o menino arrancava aplausos de curiosos ao esbanjar talento para o esporte que, da noite para o dia, virou febre nacional. Desde que a skatista Rayssa Leal, de 13 anos, conhecida como Fadinha, faturou a prata nas Olimpíadas, a procura pela modalidade não para de aumentar. Só ontem, o instrutor Felipe Ribeiro recebeu 18 ligações de pais interessados em matricular seus filhos, sendo oito delas meninas. O impacto também foi sentido no comércio: a Netshoes informou que as buscas por skates subiram 30%. Os brasileiros ficaram acordados de madrugada para ver as manobras da adolescente maranhense e o assunto ficou entre os mais comentados das redes sociais.

    Entre os praticantes do esporte, o bom desempenho de Fadinha nas Olimpíadas já era esperado. Embora pouco conhecida do grande público, a skatista prodígio já vinha se destacando em torneios Brasil afora. A última vez que ela esteve no Rio foi em novembro de 2019, quando conquistou a prata na competição Oi Stu Open, na Praça do Ó, na Barra da Tijuca.

    — Rayssa tem um carisma incrível e todos aqui estavam torcendo para ela. Fico muito feliz pela história dela e pelo reconhecimento que o skate vem tendo desde que se tornou um esporte olímpico — vibra Felipe Ribeiro, de 31 anos.

    Na pista da Lagoa Rodrigo de Freitas, a procura também aumentou. O instrutor de skate Ricardo Martins, de 46 anos, que há mais de duas décadas largou a advocacia para se dedicar ao esporte, conta que cada vez mais meninas têm procurado a modalidade.

    — Hoje, na faixa etária de 5 a 15 anos, temos praticamente o mesmo número de meninos e meninas. Elas não se intimidam e fica uma competição sadia na pista. No skate, incentivamos a superação com coleguismo, sem aquela rivalidade negativa — explica ele.

    Foi a curiosidade de ver outros meninos andando de skate que atraiu o pequeno Nicolas ao esporte. Pai do menino, o empresário Victor Gouveia, de 38 anos, orgulha-se do seu desempenho em cima do skate, apesar de ter tido apenas sete aulas.

    — Ele tem curtido bastante desde a primeira aula, e o professor diz que tem talento. Até eu comecei a andar — conta.

    Em fase final de reforma, a pista de skate da Lagoa é elogiada pelos skatistas, que agora cobram reforma em outros equipamentos espalhados pela cidade. De acordo com o vice-presidente da Federação de Skate do estado do Rio de Janeiro (Faserj), Leonardo Silveira, de 42 anos, já existem planos de revitalização da pista de skate da Praça Tim Maia, no Recreio, e da Cocotá Skate Park, na Ilha do Governador.

    — Temos trabalho com parcerias público-privadas na revitalização desses espaços, que ganham cada vez mais importância. Antigamente, o skate era um esporte marginalizado. Hoje, os pais já querem que seus filhos se tornem um Bob Burnquist ou uma Fadinha — diz Leonardo.

    Existem, na cidade, pelo menos 14 espaços públicos para os skatistas se aventurarem. Nas Vilas Olímpicas, há pistas de skate no Encantado, na Gamboa e em Acari. Na Zona Norte, há ainda o Snake do Maracanã, que teve a iluminação trocada recentemente.

    Na Zona Sul, além das pistas da Lagoa e do Aterro, existe a pista do Parque Garota de Ipanema, que também foi reformada há pouco tempo.

    Outros locais para a prática de skate são o Parque de Madureira, Bowl do Rio Sul, Tanque, Mini Ramp do Méier, Pista do Recreio, Pista do Estácio, DUÓ Skatepark (Praça do Ó, na Barra) e Guilherme da Silveira (Bangu).

    De acordo com a prefeitura, todos os equipamentos passam por vistorias periódicas para que estejam em boas condições de uso pela população. A Secretaria de Esportes e a Secretaria da Juventude fecharam um acordo recentemente que prevê reuniões mensais com a Faserj e integrantes de coletivos do esporte na cidade. O primeiro encontro vai acontecer no dia 3 de agosto.

    A principal demanda, segundo Leonardo Silveira, é revitalizar os projetos sociais ligados ao esporte.

    — Temos que resgatar o skate como ferramenta social. Há bons projetos no Morro Santo Amaro, no Vidigal e na Maré. Queremos amparar todas essas iniciativas para dar oportunidades às crianças das comunidades — diz.