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    Operação policial no Rio de Janeiro deixa 23 mortos na Vila Cruzeiro

    Por CNN Brasil

    Chegou a 23 o número de mortos na operação policial realizada na Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, na terça-feira (24).

    Na manhã desta quinta-feira (26) as forças policiais informaram que 26 pessoas morreram nas incursões na comunidade, que fica na zona norte do Rio. A informação foi corrigida nesta tarde.

    Cinco pessoas feridas seguem internadas após a operação: três delas no HEGV, uma na UPA do Alemão e outra na UPA da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap).

    “A direção do Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV) informa que, desde terça, 28 pessoas foram encaminhadas à unidade, na Penha. Desse total, 21 já chegaram mortas e três evoluíram a óbito após atendimento”, informou o hospital.

    “Os corpos foram encaminhados ao Instituto Médico Legal da Secretaria de Estado de Polícia Civil”, acrescentou.

    Dos três internados no HEGV, dois estão estáveis e um está em estado grave.

    A morte de Gabrielle Ferreira da Cunha, atingida por bala perdida durante a operação, não está no balanço de mortes do HEGV.

    A direção da UPA do Alemão informou, em nota, que “deu entrada na unidade um homem adulto, que foi transferido para o Hospital Municipal Salgado Filho e um menor sem identificação, já em óbito, cujo corpo foi encaminhado para o IML”. O homem adulto tem estado de saúde estável.

    Segundo a Polícia Militar (PM), o Batalhão de Operações Especiais (BOPE), a Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) fizeram uma ação conjunta na favela da Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio.

    O objetivo, segundo a corporação, era prender lideranças criminosas escondidas na comunidade, inclusive pessoas que vieram de outros estados, como Amazonas, Alagoas e Pará.

    O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e o Ministério Público Federal (MPF) instauraram Procedimento Investigatório Criminal para apurar as mortes. O comando do Bope deve enviar explicações sobre a operação no prazo de dez dias.

    O Bope terá que ouvir os agentes envolvidos na operação, indicar os responsáveis pelas mortes e esclarecer a licitude de cada uma.

    Além disso, foi requisitado ao Departamento-Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa, da Polícia Civil, que sejam enviadas ao MP informações sobre os inquéritos policiais instaurados.

    O Ministério Público também encaminhou ofício à Delegacia de Homicídios (DH), recomendando que todas as armas dos policiais militares envolvidos na ação sejam apreendidas e enviadas para exame pericial, inclusive com a comparação dos projéteis que venham a ser retirados das vítimas.

    Os pedidos foram feitos no âmbito do Procedimento Investigatório Criminal (PIC) instaurado pelo MP para apurar as circunstâncias das mortes.

    Ministério Público Federal (MPF) também instaurou PIC para apurar as condutas, eventuais violações a dispositivos legais, as participações e responsabilidades individuais dos agentes federais.

    A ação na comunidade foi realizada pela Polícia Militar em conjunto com a Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

    Em nota, a Polícia Militar afirmou que “não é possível considerar exitosa uma operação com resultado de morte, principalmente envolvendo a perda da vida de uma pessoa inocente”, mas reitera que a ação era necessária devido às disputas entre grupos criminosos na região.

    Denúncia na Corte Interamericana de Direitos Humanos

    Instituições sociais e organizações não governamentais (ONGs) denunciaram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA), a operação policial que deixou 25 mortos na comunidade da Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, na última terça-feira (24).

    Os órgãos pedem que o comissariado acompanhe as investigações e cobre respostas das autoridades sobre a ação que deixou o segundo maior número de mortos em uma incursão deste tipo no estado. Os dados são do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI/UFF), de Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

    A ação só causou menos óbitos que a operação do Jacarezinho, em maio de 2021, quando morreram 28 pessoas. A incursão do ano passado é lembrada pelo documento das entidades, que destacam ainda a atuação de dois órgãos federais na ação de terça-feira: a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Federal (PF). No entanto, como ainda há seis feridos internados, o número de mortes ainda pode subir.

    O documento lembra que a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, no Supremo Tribunal Federal (STF), restringe as condições para a realização de operações em comunidades do estado durante a pandemia de Covid-19. Na peça, também pedem que a CIDH se pronuncie sobre a operação e monitore as situações de violência no estado.

    O pedido, assinado por Justiça Global, Observatório das Favelas, Casa Fluminense, Instituto Marielle Franco, Instituto da Mulher Negra (Geledés) e Instituto Raça Igualdade e Direitos Humanos, solicita ainda que a a CIDH, sediada em Washington, nos Estados Unidos, cobre órgãos estaduais e federais para que apurem as circunstâncias em que a operação aconteceu e eventuais sinais de tortura, assim como possíveis alterações nas cenas dos crimes.

    A peça requisita ainda investigações realizadas pelo Ministério Público (MP-RJ) e do Ministério Público Federal (MPF). Os órgãos informaram já terem aberto procedimento investigatório para apurar o caso. As entidades pedem também que a CIDH mantenha comunicação direta com o governo brasileiro para questionar as medidas adotadas para enfrentamento da violência policial.

    “Estamos chocados”, diz representante dos direitos humanos da ONU

    O escritório de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) declarou nesta quarta-feira (25) estar “chocado” pela operação policial que deixou ao menos 25 mortos, na região da Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio de Janeiro.

    Em comunicado enviado à CNN, a porta-voz da entidade, Liz Throssell, destacou o fato da maioria das vítimas identificadas serem negras, “assim como é em 80% das operações policiais tão mortais quanto, de acordo com estudos sobre o histórico de operações no Rio de Janeiro”.

    Ela pontua que as Nações Unidas estão cientes da abertura de investigação por parte das autoridades sobre as mortes, e “particularmente para avaliar a legalidade e a proporcionalidade do uso da força pela polícia”.

    “Pedimos às autoridades brasileiras que conduzam uma investigação de maneira completa, objetiva e oportuna para garantir a responsabilização e reparação das vítimas e familiares”, afirmou a porta-voz.

    “É fundamental que as autoridades cumpram a ordem do Supremo Tribunal Federal de implementar um plano para reduzir as mortes em operações policiais, em especial equipando os batalhões de operações especiais com câmeras corporais”, acrescentou.

    A porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU concluiu dizendo que a agência encoraja “fortemente” o Brasil a tomar medidas para combater o racismo estrutural.