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    Crônica: sepultamento do diálogo

    Por Hugo Brito

    Por necessidade, hoje precisei ir ao banco. Imaginar a fila que me aguardava causou-me desânimo. Mas fui. E nada diferente do que imaginei, pois o enfileiramento das pessoas aguardando para serem atendidas era mesmo de causar desinteresse. Mas permaneci.
    Eu lia um bom livro enquanto esperava. É um hábito e uma forma de deixar o tempo da espera mais produtivo e menos penoso. Mas a leitura foi interrompida pela disposição de um senhor que estava logo adiante tentando contar suas histórias há muito vividas.

    Com uma contagiante vaidade, ele narrava sobre como aprendeu a nadar nos rios cheios, ainda nos tempos de menino. Falou que toda a sua infância e boa parte da vida adulta foram consumidas nos seringais, e que se orgulhava disso. Esclareceu que só veio para a cidade quando a velhice o alcançou, e que foi trazido pelos filhos. E não teve escolha. Disse da tristeza de morar em um lugar onde a vida é sempre acelerada e sem tempo para as coisas simples. Falou da morte da esposa e do vazio existencial que ela deixou. De repente, o silêncio. O eloquente senhor olhou em volta e constatou que falava para ouvidos desinteressados. Então ele me notou e aproximou-se. Com uma voz mais lenta e em tom de desabafo, falou-me:
    – Sabe, meu jovem, na minha casa também é assim. Os meus filhos se reúnem, mas não estão reunidos. Ficam pertos e distantes ao mesmo tempo. Eles também olham dessa forma para o celular. Alguns até respondem as minhas perguntas, mas sem tirar os olhos do aparelho. No meu tempo de jovem, conversar era o que nos alegrava, e era uma forma de deixar a vida mais preguiçosa de andar de pressa.

    ** Natural de Jordão, no interior  do Acre, Hugo Brito é  graduado em Ciências  Sociais pela UFAC e Direito  pela Uninorte. Advogado e atualmente  trabalha no MPAC. Além  de apaixonado  por clássicos  da literatura  nacional,  dos quais, as obras cânones  de Machado  de Assis.