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    IMPACTO DA PANDEMIA NO ACRE

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    Por José Porfiro*

     Prezado Leandro, essa é uma extraordinária questão; por várias razões. Tudo o que sabemos no momento é que (i) teremos uma recessão muito grande, neste ano de 2020, podendo chegar ao extremo de uma queda de até 9% do Produto Interno Bruto (PIB) e que (ii) a economia levará certo tempo para se recuperar. 

    Tirando isso, todas as ações e todas as afirmações são realizadas no absoluto desconhecimento (ignorância) dos desdobramentos desta pandemia do novo coronavírus, um vírus que causar a terrível doença COVID-19. Também não é para menos. Simplesmente estamos atravessando o maior atropelo mundial dos últimos tempos, só parecida com a gripe espanhola de 1918-1920, grande crise econômica de 1930, e, com a Segunda Guerra Mundial, de 1939-1945.

    Em nível nacional, essa recessão levará ao fechamento de milhares de empresas, principalmente as micro, pequenas e médias, tendo como consequência o evidente aumento do desemprego, que estão estimando a um nível bem acima dos 10%, levando milhares e milhares de trabalhadores à informalidade, bem como ao aumento brutal dos moradores de rua, sejam individualmente ou famílias inteiras. No caso dos moradores de rua, já tinha aumentado substancialmente nos últimos 5 anos. Em São Paulo já havia próximo de 25 mil. No Rio de Janeiro, já passava de 15 mil. Nestas duas cidades, essa situação é bastante visível; quando transitamos nas ruas, ficamos simplesmente impressionados.

    Agora, você perguntou quais os impactos da pandemia no Acre. Em termos precisos não é possível ninguém saber, pois estamos no meio do redemoinho. Tudo gira em termos de estimativas. Por exemplo, estudo da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Agrícola do Acre (ACISA), divulgado há uma semana, diz que 30% das empresas que fecharem com a crise da COVID-19 não mais voltarão a funcionar. Veja que deram uma informação, mas não se atreveram a especular qual a quantidade de empresas que serão fechadas.

    Assim sendo, o que sabemos de antemão é que haverá uma grande recessão na economia nacional, e que essa recessão rebaterá aqui no Acre; em que magnitude ainda não se sabe. Essa “certeza” de recessão traz implícita outra discussão que diz respeito à política econômica do governo para enfrentar esse quadro de dificuldades econômicas. Se tivermos como parâmetro governos de outros países, observa-se que na maioria deles, os gastos e concessão de crédito para lidar com a queda da produção e emprego estão acima dos 10%, em algumas situações, se aproximando até a 25%.

    Como essa é uma discussão mais detalhada, não vou entrar no mérito das ações que estão sendo implementadas pelo governo federal. Até agora já foram desenhadas algumas medidas, incluindo o conhecido auxílio de R$ 600,00; imprescindível. No entanto, reclama-se demais que, no geral, o governo federal posterga demais as ações, dificultando que as populações mais pobres possam se beneficiar. Mas isso é outra história.

    O certo é que seremos afetados pela crise, em várias dimensões, sem no entanto ainda podermos ter uma noção geral, tal como já se sabe que em nível nacional a recessão será bastante severa.

    José Porfiro

    * José Porfiro da Silva é professor da UFAC. Doutor em economia pelo Instituto de Economia da UFRJ. FACE: www.facebook.com/jporfiro. Instagram: @joseporfiro.