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    CZS: Caso seja eleito, Marcelo Siqueira pretende criar um programa de bolsa de estudos para jovens residentes na zona rural e em bairros pobres com alto indicador de violência

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    O professor universitário Marcelo Siqueira, de 39 anos, atendeu ao convite do Portal Tarauacá para participar de uma entrevista e falar dos seus projetos políticos, caso venha ser eleito prefeito de Cruzeiro do Sul, segundo maior colégio eleitoral do estado.

    Marcelo é graduado em enfermagem, tem mestrado e doutorado na área de saúde, além de ser palestrante, inclusive com direito a palestra em solo americano. Professor adjunto da Universidade Federal do Acre, Siqueira já postulou o cargo de vice-prefeito e de deputado estadual, todos pelo PT, legenda que é filiado até hoje.

    Para o pré-candidato, a escolha de permanecer no PT mesmo sabendo da rotulação dos adversários, é uma forma de gratidão.  Questionado do porquê a legenda não tinha vencido na capital do Juruá durante os 20 anos de governo estadual, Marcelo foi taxativo: escolheram candidatos de ocasião, sem uma construção de base.

    Leia a entrevista

     Portal Tarauacá: Quem é Marcelo Siqueira?

    MS: Uma pergunta bem complexa, sobretudo em tempos de política, onde candidatos se apresentam com histórias que dariam livros e filmes (risos). Mas, costumo dizer que sou um dos filhos do Seu Osmiro e da Dona Sílvia. Alguém comum, de gosto comum, que, entre erros e acertos da vida, trabalha, estuda, tem empatia pelo próximo e é encantado por novos desafios. Talvez por isso amo tanto os livros.

    Portal Tarauacá: durante 20 anos o PT esteve no comando do Estado, todavia,  não conseguiu ter um nome competitivo para disputar uma eleição, mas após a derrota do grupo,  o Sr. acredita que é possível vencer sendo filiado a legenda?

    MS: você definiu bem, durante 20 anos de poder o partido acabou se orientando pelo poder. Foi um erro! O partido influenciado pelo governo indicou, com todo respeito a quem disputou, candidaturas de ocasião. Não eram candidaturas legítimas de um processo político de base; eram candidaturas verticais e por isso não lograram êxito. É preciso combinar com a população. E sobre vencer a eleição, eu tenho plena consciência da rejeição partidária, mas também tenho convicção que o eleitor não vota em um partido para prefeito, mas sim em alguém, em uma pessoa. E acho é que o que o povo decidir, está decidido.

    Portal Tarauacá: O Sr. tem uma ficha limpa e goza de prestígio na sociedade, principalmente na área acadêmica, porém, está filiado ao PT, legenda com nomes bastante comprometido com a corrupção.  Como o Marcelo Siqueira fará para desvincular sua imagem desse mantra que o adversário irão atribuir que o Sr. é aliado deles?. Pergunto baseado nos comentários que as pessoas postam nas redes sociais.

    MS: Pergunta importante! Eu tenho respondido ela no meu cotidiano. Primeiro, eu gostaria de lembrar que passei os últimos seis anos longe da política partidária, mas realizando trabalhos sociais. Nosso último projeto, o humano de verdade, atendeu em 2019 mais de 1000 jovens em vulnerabilidade social e emocional. E me orgulho de poder ajudar as pessoas, pois não sou político de carteirinha, eu tenho profissão e não preciso da política como meio de vida, mas preciso dela para transformar a vida de quem está em dificuldade. Digo isso, pois mesmo realizando um relevante serviço para a sociedade e tendo diversas relações de amizade com membros de outras forças partidárias, eu não recebi nenhum convite e nenhuma porta se abriu para mim em outras legendas. Quem abriu caminho foi o partido dos trabalhadores, daí gratidão só pode ser paga com gratidão. Também tenho dito que partido é como a roupa de um homem de bem que foi furtada em um varal, mesmo que o ladrão use, isso não fará dele um homem de bem. Já imaginou se eu fosse imputar aos meus amigos do PSL local os delitos do Flavio Bolsonaro ou do Bivar; ou aos meus amigos do PSDB os crimes do Aécio e do Azeredo; ou mesmo aos amigos que tenho no MDB os crimes do Cunha e do Cabral; isso seria justo? Não, não seria. Sei que tem gente que pensa assim, mas eu não. Se a pessoa é integra eu preservo a integridade dela. Por isso, estou tranquilo.

    Portal Tarauacá: Vamos falar dos projetos do Sr. Quais seus planos para Educação? Digo, sair daquela do arroz com feijão, isto é, fazer uma política transformista, igual à que ocorreu em Sobral,  com a família Ferreira Gomes.

    MS: a educação é o baldrame da casa em construção, o alicerce, se não for bem feito a casa terá problemas crônicos e poderá até cair. A maioria dos prefeitos se preocupa em falar de abrir creches e afirmar que a prefeitura só deve cuidar do ensino infantil. Eu penso diferente. Eu penso que a prefeitura pode fundar um novo sistema de ensino voltado, primeiro, para corrigir as distorções dentro do próprio município, ou seja, investir mais onde se precisa de mais. É preciso pensar em escolas bem equipadas e adequadas à realidade que o mundo nos exige. Daí, é importante a adoção de uma nova metodologia de ensino, algo alinhado com as diretrizes nacionais, mas capaz de ampliar o aprendizado local, tornando-o competitivo. Tal como o exemplo do Ceará. Todavia, também é preciso levar o estimulo à educação além dos limites do ensino infantil. Penso que um programa de bolsa de estudos para jovens residentes na zona rural e em bairros pobres com alto indicador de violência pode ser o caminho para uma redescoberta da educação como mecanismo capaz de transforma vidas. Nossos jovens assistem seus pares se formar e ficar desempregado, logo, perdem o interesse pela educação. Mas, se desde cedo eles assistirem outros jovens, ainda estudantes, já com conquistas por seu esforço, aí a gente retoma o encanto. A educação é um tema longo, levaria uma semana para falar tudo o que penso. Contudo, se é a pasta com o maior orçamento e os professores e técnicos ganham mal e as escolas estão aos pedaços, temos então um grave e histórico problema de gestão. Podemos mudar isso!

     Portal Tarauacá: O senhor é enfermeiro, com um currículo excelente, mas temos visto que quem é da área não costuma valorizar a classe. Um exemplo disso é o Tião Viana, que é médico, mas sabemos a forma como deixou a saúde do Estado do Acre. O que o Sr. fará de diferente para acabar com oeste carma popular que santo de casa não obra milagre?

    MS: eu amo minha profissão e lamento a condição em que meus colegas estão. Mas, acredito que um prefeito deve governar com isonomia para todas as classes trabalhadoras do executivo. Penso que a prefeitura precisa de uma reforma administrativa e isso naturalmente mudará para melhor a vida dos servidores e da população. Pois, os melhores resultados na prestação de serviços são parte de um processo que deve levar em conta empenho, jornada e remuneração justa. Os trabalhadores da saúde, o que inclui a categoria de enfermagem, são um claro exemplo de falta de prioridade histórica. O tratamento dado ao servidor geralmente reflete o tratamento dado à gestão.

    Portal Tarauacá: o município tem uma terra fértil, mas a maioria do que consumimos é importado. Quais seus planos de governo para mudar essa realidade, ou seja, dar condições para produzir, gerar renda e o cruzeirense ter na sua mesa o produto do homem do campo local?

    MS: ótima pergunta! Tenho conversado com os melhores quadros técnicos da área do agronegócio e todos dizem a mesma coisa: Marcelo, é preciso reorientar a política de produção rural de Cruzeiro do Sul. Por isso, estamos pensando em plano estratégico que primeiro fará uma avaliação técnica de todas as propriedades da região, realizando estudos demográfico e de análise de solo; depois será feita uma escala de potencial produtivo, ou seja, o que esses produtores, a depender do tamanho da terra, do tipo de solo, do clima e até da experiência prática que são capazes de produzir; depois disso, é preciso questionar a viabilidade econômica dos produtos e se são sustentáveis, se darão lucro para produtor. Feito isso, teremos um mapa potencial do município. Também estamos pensando na criação da assessoria técnica para projetos de produção, algo que ajude o produtor a conseguir crédito. E por fim, Cruzeiro do Sul é uma cidade privilegiada, temos mão de obra super qualificada, por exemplo, na Embrapa, na Ufac e no Ifac, logo queremos criar parcerias sólidas para que todo esse potencial seja unificado em torno da produção familiar e da indústria agrícola. É algo plenamente provável. Veja o exemplo do café clonal, tecnologia da Embrapa e da Ufac, que já está mudando o perfil da produção em nossa região.

    Portal Tarauacá: como está a chapa proporcional do Sr. e quais partidos têm conversado para fazer parte do projeto?

    MS: estamos em processo de construção interna. Mas confesso que não é um trabalho fácil, pois o poder de alguns influencia no declínio de outros. Acho que deu para entender.Contudo, temos ótimos nomes e muitas novidades. Estamos fazendo um esforço para mostrar qualidade técnica por nicho popular em nossa chapa.

    Sobre os partidos, até as convenções muita água irá passar por debaixo da ponte. Temos dialogado com aliados históricos como o PC do B e o PSB, mas também não negamos diálogo à outras bandeiras como o MDB e o PSD. Sempre recebo um convite para conversar com bons olhos. Nossa cidade não é grande e penso que deveríamos conversar mais, todas as forças. A disputa deve ser de ideias e não de brigas. Estou fora de brigas e não gosto de rotular adversários. Quem toldar a água cedo correrá o risco de beber lama. Ditado antigo, mas muito útil.

    O que está em jogo não é o partido A ou partido B, mas o futuro de Cruzeiro do Sul. Se já tivesse uma candidatura com o perfil da nossa e disposta a radicalizar positivamente, por exemplo, na educação, saúde e na geração de emprego, pois a cidade precisa de um plano econômico, creio que eu não estaria pré-candidato. Não é nenhuma vaidade e nem arrogância, mas não preciso da política como meio de vida. Eu tenho uma carreira promissora no serviço público federal e sou estudante de outra carreira liberal (direito). Contudo, eu, você, todos nós, precisamos da política para ter qualidade de vida plural, para ter segurança, renda, lazer, saúde, educação, transporte; dentre tantos outros direitos fundamentais. Não adianta pensar só em si, pois não vivemos isolados em uma ilha. Temos que pensar em todos, é o que me move.